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A saudosa Palavraria |
Em primeiro lugar, o texto não era uma seleção de poemas avulsos, sobre temas diversos, aquilo que se convencionou chamar de "lírica", como o que eu publicara antes e sigo escrevendo até hoje. Em vez disso, eu tinha enfrentado o desafio de escrever uma peça de teatro à moda clássica, inteiramente em versos. Era a coisa mais fora de moda possível, deu um trabalhão danado, mas fiquei bem contente com o resultado. Verdade que faltou alguém se interessar em levá-la aos palcos, mas ainda não perdi a esperança.
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A lista de friends se completa com Cândida Santi (E) e Sandra Alencar (D), que encenaram um trecho da peça durante a Feira do Livro. |
DIONÍSIO: - Ó ressaca miserável,
ó horrendo amanhecer!
Anjo da guarda, onde andaste,
que embriagar-me deixaste
até a razão perder?
APOLO: - Onde ele andava não sei,
já que anjos, não os temos
nós, aqui no Monte Olimpo. (para a platéia)
Isto só muito mais tarde
é que vai ser inventado. (para Dionísio)
Resta saber onde andaste
tu, meu irmão preferido.
DIONÍSIO: - Eis uma boa pergunta,
difícil de contestar
Até onde eu me recordo,
pela décima-segunda
taça de vinho me achava
entre os mortais, numa festa.
Soava uma estranha música,
semelhante a um bate-estacas
usado pra edificar
essas construções modernas.
APOLO: - Sei. Pareciam felizes
todos que lá se encontravam,
e agora estão de ressaca,
a mesma em que te achas tu.
Num caso assim os mortais
têm um ditado que cai
como uma luva em sua mão:
“O ébrio não é dono do seu c...”