sexta-feira, 23 de setembro de 2016

O soneto no boteco

O famoso Zicartola, no Rio de Janeiro, em cujas mesas
muita poesia nasceu.
... e o boteco no mundo.


Embora um dos segredos da poesia seja a capacidade de enxergar as coisas do cotidiano (em nossa casa, nossa rua e nossa cidade) de forma distinta da que estamos acostumados, também é fato que as viagens nos oferecem sempre oportunidades e motivações para escrever. Assim como um poema que publiquei aqui no mês passado surgiu numa viagem de ônibus pelo Rio Grande do Sul, o de hoje foi iniciado num bar, numa de minhas visitas à capital paulista, onde por acaso me encontro novamente no dia de hoje. Foi há exatos 10 anos, e continuo gostando muito dele. Está em Luta+vã (Libretos, 2012).


Soneto XXVIII (Paulistano)


O alívio de sentar-se num café
e ver um futebol sem ter idéias...
E ao tempo em que absorvo o alimento,
deixar que o chope faça o seu efeito.

Sonhar que a moça loira à mesa em frente
é a mesma que deixei nalgum lugar,
assim como hoje deixo em casa o peso
dos anos e problemas cotidianos...

O alívio de deter-se em qualquer parte
estranha a mim, alheia ao meu caminho,
alívio de ser eu, ansiado prêmio

que a mim parece inteiramente justo,
igual ao resultado da partida
jogada por dois times que eu ignoro.

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