sábado, 13 de agosto de 2016

Dia dos Pais, inclusive os que tocam violão

Pelo final dos 1980, quando eu ainda não era pai, mas volta e
meia alguém adormecia com aquelas musiquinhas que eu tocava.
(Foto Vera Zagonel)
Segue a série "Ser pai, ser filho", que integra o livro Luta+vã, com esse poema curto. A cena retratada é verídica, e com certeza familiar a muitos senão todos os meus amigos músicos: quem não tocou ou cantou para as crianças dormirem?
Reparem que o retrato doméstico, que inicia naquele clima de pai herói e protetor, termina na reflexão existencial, provocada pelo múltiplo sentido dos dois versos finais, onde "meu turno" é não só essa hora indefinida de uma noite qualquer, mas também o tempo tão bom de criar os filhos, que um dia se acaba; ou a duração total da minha vida. Eis o motivo pelo qual gosto tanto deste poema singelo.

Sentado à porta
do quarto delas
eu conto histórias.

Armado apenas
de um violão,
eu monto guarda
contra os fantasmas,
que às vezes vêm
de não-sei-onde.

Passada a noite,
terão sumido.
Meu turno findo,
irei também. 

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