... e às vésperas de terminar 2022, nessa semana entre o Natal e o Ano Novo, em que o tempo parece suspenso, depois de muitas homenagens prestadas à cidade que completou seus 250 anos, calhou de eu finalizar agorinha um poema iniciado justamente na data festiva, 26 de março. Há 9 meses, portanto. Eis o recém-nascido:
I.
Nunca pude imaginar
o
instante em que esta cidade
terá
brotado de um ventre
suficientemente
grande.
Antes
a vejo incompleta,
construindo
e destruindo
a
si mesma, em sucessivas
ondas
de modismos fúteis.
A
joia arquitetônica de ontem,
convertida
em obstáculo ao progresso,
é
condenada a desaparecer.
II.
Mesmo
assim, sem muita fé,
tentei
fazer minha parte
pra
marcar a efeméride.
Cevei um mate,
cuidei
dos gatos
e
passarinhos
do
meu amigo.
Depois
do almoço,
subi
ladeiras
e
olhei as casas
dos
milionários
e
miseráveis.
Na
sinaleira,
desviei
o olhar
dos
malabares
e
mandolates.
III.
Pelo rádio, ouvi as vozes de sempre,
Estive conferindo a nova orla
-
aquela que só mesmo o Jaime Lerner
seria capaz de ter desenhado.
Notei
que o Minuano também veio
encrespar
o Guaíba, mas de leve,
como quem sabe que é dia de festa.
IV.
Não
importa que eu fique ou vá embora:
permanecerei.
Devia
haver, contudo,
(não
sei se é o melhor nome)
um
pós-aniversário,
pra
podermos pensar
sobre
o que, afinal,
comemoramos.
(Poema editado em 28/12/2022)