segunda-feira, 18 de junho de 2018

Para lembrar do Partenon Literário e seus poetas

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no site da Editora)

Em 18 de junho de 1868, nascia em Porto Alegre a Sociedade Partenon Literário


E na data em que se comemoram 150 anos da fundação dessa entidade pioneira da cultura rio-grandense, criada por jovens literatos (inclusive mulheres) progressistas e abolicionistas, que no acanhado ambiente da Província de São Pedro criaram uma considerável biblioteca, uma escola noturna e a Revista do Partenon Literário, que publicou, entre outras coisas, os primeiros poemas com temática regional (ou campeira), peço licença aos leitores para abrir uma exceção neste blog de poesia e ao mesmo tempo fazer uma propaganda do meu livrinho Do Partenon à Califórnia (2004) que traça um percurso desde aquela época até o auge dos festivais nativistas, no final do Século XX, para analisar as suas canções.

Versão resumida da minha Dissertação de Mestrado Canto livre? O nativismo gaúcho e os poemas da Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul, defendida no Programa de Pós-Graduação em Letras da UFRGS, o livro já seria motivo de orgulho só por fazer parte da finíssima coleção "Síntese Rio-Grandense", da Editora da UFRGS, ao lado de mestres do calibre de Sandra Pesavento, Sérgio da Costa Franco, Moacyr Flores, Luís Augusto Fischer, entre outras "feras" das Letras e Humanidades.

Mas para não deixar o leitor totalmente a pé (isto é, sem o que realmente interessa), transcrevo aqui um poema de Bernardo Taveira Jr (Rio Grande, 1836 - Pelotas, 1892), um dos colaboradores da Revista do Partenon. Uma curiosidade sobre este poema é que existe uma versão musicada, que aprendi a cantar (e ainda lembro) nos bancos escolares, no Louvai Cantando, coletânea que misturava hinos luteranos e canções populares brasileiras e principalmente gaúchas. A versão que segue, integral, é de As Provincianas, edição de 1986 da Ed. Movimento e Instituto Nacional do Livro.

O tropeiro

Que vida amargada não leva o tropeiro
De dia ou de noite, no frio ou na calma!
Se o nauta nos mares perigos arrosta,
Em terra o tropeiro não cede-lhe a palma.

De estância em estância, cansando cavalos -
Cansando cavalos, o tempo se escoa;
Trabalha incansável, padece mil tratos,
Pensando na tropa que pensa ser boa.

Rodeios, apartes, corridas tremendas,
Rodadas temíveis - são cousas vulgares;
Na marcha da tropa, se o gado dispara,
É quando começam os tristes azares!

Se dá-se algum caso nas horas do dia,
Nem sempre o persegue seu fado inconstante;
Correndo, atacando com jeito e destreza,
Sossega-se a tropa - que marcha arrogante.

Nas rondas, à noite, que triste espetáculo!
Que transes, que angústias não sofre o tropeiro!
Não dorme um instante, não pára um momento,
Se o tempo se muda, se o gado é matreiro.

Mas quando, já tarde, rebrama a tormenta,
Nas asas trazendo funesta ameaça,
Ai! vida escabrosa, cercada de espinhos!
Ai! pobre tropeiro, ai! tormenta, ai! desgraça!

Agita-se o gado aos trovões que ribombam,
E, fero, revolto, mugindo, escarvando,
De chofre dispara - sem rumo e sem norte,
Aos bravos campeiros só trevas deixando!

Mil pragas, mil gritos retumbam nos ares,
Galopam cavalos transpondo negrores!
Cavalos se topam, se curvam tremendo
Ao raio que estala num pego de horrores!

No dia seguinte, passada a refega,
Sozinho no campo, quem vive? - O tropeiro
Com frio, com fome, co'a roupa alagada -
E o calo* só tendo por seu companheiro.

De novo começam trabalhos insanos
Por ínvios caminhos, por campos alheios;
Os dias se passam correndo a cavalo,
De estância em estância, pedindo rodeios.

Após mil esforços, perigos e sustos,
Lá segue, lá marcha o destroço do gado,
Da tropa o que resta, tão linda e bizarra? -
Um pobre tropeiro chorando o seu fado.

(* "cavalo")

terça-feira, 12 de junho de 2018

No dia dos namorados, um soneto para os fantasmas

Meus pais, no lançamento de Viagens de uma Caneta
Marcando mais um aniversário do meu primeiro livro, lançado por puro acaso às vésperas do dia dos namorados de 1992, aproveito para quebrar o jejum deste blog, onde não publicava nada desde março.

Não sei se se presta muito bem à efeméride, pois que nele a ironia, como de costume, se mete a disfarçar o romantismo (ou a rir dele). Julgue o leitor.



SONETO VIII


para Lu

Em torno a mim, bailando
vêm as amadas mortas, queridas,
e as esquecidas, ainda agora tentando
em mim prolongar suas vidas.


Por um nada não fomos felizes,
dizem umas, e logo ao meu pescoço
se lançam. Outras, de empinados narizes,
me acusam: "– Já não parece tão moço..."


E dançam, com vontade, as musas
de outrora, com escárnio ou ternura.
E logo a elas se juntam, confusas,


outras tantas lembranças, em tal mistura
de louras, negras, índias e cafuzas,
que já não sei meu coração o que procura.

(24/1/1991)