sábado, 22 de setembro de 2018

Uma menção para o Manguezal

"Areia preta na praia / Sobre a branca faz desenhos"
E mais um poema acaba de receber menção honrosa num concurso nacional. É o Prêmio Nacional de Literatura dos Clubes, promovido pelo Sindicato de Clubes do Estado de São Paulo, Academia Paulista de Letras e Federação Nacional de Clubes, aberto a escritores associados a clubes que fazem parte desta última. Em sua terceira edição com abrangência nacional, o prêmio teve 170 inscritos de 26 cidades, nas três categorias (poesia, conto e crônica), premiando três trabalhos em cada uma, além das menções honrosas.

A cerimônia de entrega será no dia 26 de novembro, no Clube Paulistano, em São Paulo. Os trabalhos premiados poderão ser publicados em livro.

O poema, que transcrevo a seguir, foi inspirado num passeio de canoa pela foz do Rio de Contas, em Itacaré BA, em 2015. Sobre ele, assim se expressou o júri formado pelos escritores Anna Maria Martins, Mafra Carbonieri e Joaquim Maria Botelho: "Um exercício ternário, trissílabo, remete a um gotejar de acontecências que se espraiam em heptassílabos, caem para redondilhas menores e reassumem o ritmo ternário. Isso, na forma. No conteúdo, debate social, inquietação e inconformismo."

Mas há outra característica sonora no poema, tão importante quanto o ritmo, que aparentemente escapou aos jurados: as rimas assonantes. São mais de 20 palavras paroxítonas com as vogais Ê + O (de preto/negro) e Ê + A (de preta/negra), presentes na maior parte dos versos. Confere aí:

Manguezal

Sexta-feira
Cai a noite
Lama negra
No horizonte
Lua cheia
De janeiro
Vai nascendo
Urubus no vento
Sobre o manguezal vermelho
Cidade dos caranguejos

O fumo negro da usina
Comendo a cana, comendo.
Areia preta na praia
Sobre a branca faz desenhos
Cais de pedra
Sem conserto
Água lenta
Rio que escorre
Prisioneiro

O menino magro
Vem sorrindo à toa
Tarde boa
Peixe farto
Rede cheia
O menino preto
Desce a correnteza
Pão na mesa
Bom de remo
Vai vivendo.