segunda-feira, 10 de abril de 2017

Dez anos de uma aposta

A saudosa Palavraria
Dia 10 de abril de 2007, há exatos dez anos, eu lançava meu quarto livro de poesia, que ocupa até hoje uma posição única dentro da minha produção, por duas razões.

Em primeiro lugar, o texto não era uma seleção de poemas avulsos, sobre temas diversos, aquilo que se convencionou chamar de "lírica", como o que eu publicara antes e sigo escrevendo até hoje. Em vez disso, eu tinha enfrentado o desafio de escrever uma peça de teatro à moda clássica, inteiramente em versos. Era a coisa mais fora de moda possível, custo-me anos de trabalho, mas também de diversão, e fiquei bem satisfeito com o resultado. Verdade que faltou alguém se interessar em levá-la aos palcos, mas ainda não perdi a esperança.

A lista de friends que me deram um help se completa com Cândida Santi (E) e
Sandra Alencar (D), que encenaram um trecho da peça
durante a Feira do Livro.
A segunda peculiaridade foi o processo produtivo do livro. Diferentemente dos três primeiros, todos publicados às custas do contribuinte (federal, estadual e municipal), em que minha participação resumiu-se a revisar as provas e dar algum pitaco na capa, eu tinha decidido produzir este de forma totalmente independente, o que resultou numa experiência interessante (embora com seus perrengues, como é fácil imaginar). O que não quer dizer que tenha me faltado "a little help from my friends" Márcia Lange, que me deu uma pequena e linda aquarela na forma de cartão de aniversário, há muitos anos; Zeca Oliveira, que a transformou numa bela capa; minha prima Eroni Schercher, que fez a ficha catalográfica; Charles Kiefer, que escreveu a apresentação do livro; Armindo Trevisan, de quem reproduzi, ao final, um pequeno ensaio sobre meus livros anteriores e Luiz Paulo Vasconcellos, que escreveu uma resenha muito lisonjeira, na saudosa revista Aplauso.

A obra foi inspirada na leitura de O Nascimento da Tragédia, de Nietzsche (mas curiosamente, virou uma comédia) Reproduzo aqui o início da primeira cena, em que são apresentados os protagonistas - os deuses do título, os irmãos gêmeos Apolo e Dionísio. Só para dar um gostinho, pois para entender precisa ler o livro todo, é claro (encomendas com o autor).

DIONÍSIO: - Ó ressaca miserável,
ó horrendo amanhecer!
Anjo da guarda, onde andaste,
que embriagar-me deixaste
até a razão perder?

APOLO: - Onde ele andava não sei,
já que anjos, não os temos
nós, aqui no Monte Olimpo. (para a platéia) 
Isto só muito mais tarde
é que vai ser inventado. (para Dionísio)
Resta saber onde andaste
tu, meu irmão preferido. 

DIONÍSIO: - Eis uma boa pergunta,
difícil de contestar
Até onde eu me recordo,
pela décima-segunda
taça de vinho me achava
entre os mortais, numa festa.
Soava uma estranha música,
semelhante a um bate-estacas
usado pra edificar
essas construções modernas.

APOLO: - Sei. Pareciam felizes
todos que lá se encontravam,
e agora estão de ressaca,
a mesma em que te achas tu.
Num caso assim os mortais
têm um ditado que cai
como uma luva em sua mão:
“O ébrio não é dono do seu c...”


Um comentário:

  1. Super D+ parabéns,gostei da "a little help from my friends",👏👏👏

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