quarta-feira, 25 de outubro de 2017

25 anos de poemas nos ônibus e uma cidadezinha

Moacyr Scliar escreveu a orelha do livro.
Neste ano de 2017 Porto Alegre comemora (ou devia estar comemorando) 25 anos de um projeto extremamente bem sucedido de difusão da literatura. Trata-se dos Poemas nos Ônibus, concurso que a Secretaria Municipal da Cultura promoveu pela primeira vez em 1992, selecionando 16 poemas que passaram todo o ano seguinte passeando de ônibus, impressos em adesivos colados em suas janelas.
Dez anos mais tarde (quando foi lançado o livro comemorativo, cuja capa reproduzo aqui), já seriam 53 os selecionados, dentre mais de 5 mil poemas inscritos. Posteriormente, foi ampliado para os trens, numa parceria com a Trensurb.

Conforme publiquei aqui antes, tive dois poemas selecionados na segunda edição do concurso (1993-1994). Mas em 1997, um poema do meu segundo livro O Primeiro Anel foi selecionado para participar como convidado. Ei-lo aí embaixo, com pequenas alterações que fiz posteriormente.

A inspiração do poema vem da cidadezinha de Esmeralda, nos chamados Campos de Cima da Serra do RS, onde vivi entre 1986 e 1989. Mas o vento nos eucaliptos é um fenômeno típico de nosso litoral, e foi mais precisamente em Tramandaí que eu prestei atenção nele.

Neste ano de 2017, pela primeira vez desde sua criação, o concurso Poemas nos ônibus não aconteceu.

CIDADEZINHAS

Mosaicos de verde e telhados imóveis.
O vento anima a dança dos eucaliptos.
A chuva faz tudo parecer de vidro.
O sol espanta o povo e empresta vida
às pedras do calçamento

À noite, o som dos bichos acende
medos, desejos e lâmpadas fluorescentes.
O tempo faz crescerem e leva embora
as crianças. E os homens todos procuram 
lugar certo de plantarem uma outra
cidadezinha.

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