Por muitos anos deixei de participar de concursos, meio por cansaço ("pra que isso?"), meio por descrença ("é tudo marmelada!"). Só no ano passado voltei a enviar meus poemas, o que não deixa de ser uma "pressão saudável" para escrever, organizar e publicar a produção. Ah, os prazos...
Em sua décima-nona edição, o concurso homenageia o poeta Mansueto Bernardi, que residiu naquela cidade de 1942 até seu falecimento, em 1966, e que dá nome à biblioteca municipal. "Poeta", no caso, é apenas uma faceta, bem marginal até, desse cidadão, que foi um dos cérebros da Editora do Globo, nos áureos tempos desta. Nascido na Itália, foi também jornalista, professor e ocupou importantes cargos públicos no Estado e no Governo Federal.
Por coincidência, pouco antes de tomar conhecimento do concurso, eu andava garimpando num sebo aqui perto e encontrei seu livro Terra Convalescente, último que publicou, um ano antes de morrer. Contém sua poesia reunida, sob o mesmo título do que foi seu primeiro livro, lançado em 1918.
Sobre o poema premiado, uma curiosidade é eu tê-lo escrito para outro concurso, cujo regulamento (coisa relativamente rara), estabelecia um tema: “Confesso que me enternece a ideia de que, pelo menos no início dessa nova era ainda haverá avós que ensinarão suas netas a costurar roupinhas de boneca”. Deu um trabalho, tive de acrescentar os biscoitos, um cenário de ficção científica, meio apocalíptico e tal. Enviei lá pra Riberão Preto, em maio, e... nada. Mas como o resultado me agradou, tentei de novo e deu certo. Taí ele:
Soneto XXXVI
Foi decretado, num distante ponto
do Hiperespaço, pela obra e graça
do Supremo Cérebro Eletrônico,
da Galáxia a autoridade máxima,
num idioma só das máquinas sabido,
para se comunicarem entre si,
mas logo prontamente traduzido
para a nossa Língua Geral Tupi,
a fim de amenizar a dor atroz
da humanidade, nesse mundo louco:
- Por algum tempo ainda haverá avós,
(E a quem não enternecerá a ideia?)
que ensinarão suas netas a cozer biscoitos
e costurar roupinhas de bonecas.