Faz parte do meu terceiro livro, Dança das Palavras (Instituto Estadual do Livro, 1998)
Recomendo ler em voz alta, para melhor sentir o ritmo.
PASSAPORTES
A agente da Polícia Federal
que expede documentos de viagem
encontra-se entediada esta manhã.
Talvez por isso mesmo ela debruça
os olhos sobre um verso de Camões.
Na velha escrivaninha então se passam
as doudas aventuras que esta vida
negou-lhe por haver nascido tarde,
ou cedo; ou num país desventurado;
ou que ela mesma evita, quando pode.
E é justo esse momento de tamanho
encanto, que eu estrago quando chego
querendo renovar meu passaporte.
Só resta a mim voltar daqui dois dias
— é o prazo em que se apronta o documento,
e dar-lhe de presente este poema.
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